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Árvores em série

Expansão do plantio de eucalipto para produção de papel, dentro de critérios ambientais, transforma economia dos municípios.
Até há bem pouco tempo, Três Lagoas (MS) não passava de um pacato e rústico lugarejo que sobrevivia da pecuária, às margens do rio Paraná, na divisa com São Paulo. A realidade mudou quando chegaram vultosos investimentos para ocupar antigas pastagens com florestas de eucalipto destinadas à produção de celulose e papel. O PIB municipal triplicou depois que a Fibria, empresa formada pela fusão entre Aracruz Celulose e Votorantim Celulose e Papel, injetou R$ 3,8 bilhões na construção de uma fábrica e absorveu ativos da International Paper já existentes na região.
Escolas, universidades, hospitais especializados, bons restaurantes e butiques surgiram da noite para o dia para atender os "cowboys" do eucalipto. Com maior arrecadação de impostos, a cidade ganhou asfalto e drenagem, tratou esgoto e ficou mais limpa. Entrou, enfim, para o mapa do Brasil. "Há vinte anos planejávamos receber indústrias, mas a explosão só aconteceu com a celulose", conta a prefeita Márcia Moura (PMDB), contabilizando receita que pulou de R$ 74 milhões para R$ 161 milhões, nos últimos seis anos.
Isenção fiscal, rapidez no licenciamento e doação de terreno atraíram empresas, beneficiadas por uma logística que inclui estradas em bom estado, hidrovia e ferrovia até o Porto de Santos.
Novos empreendimentos em execução, ao custo total de R$ 6 bilhões, chegam no rastro do eucalipto: a siderúrgica Sitrel, uma fábrica de fertilizantes da Petrobras e uma nova indústria de celulose - a Novo Eldorado, controlada pelo Grupo JBS, tradicional corporação do ramo frigorífico que busca na matéria-prima da floresta plantada a expansão dos negócios, com investimento de R$ 2,5 bilhões.
O gado, que rende R$ 300 por hectare ao ano, cede lugar ao eucalipto, capaz de atingir R$ 800. Na estrada de acesso à fábrica, em Três Lagoas, paredões de árvores por entre pastagens abandonadas retratam o novo cenário. Ganhos ambientais superaram temores sobre os impactos da monocultura na água e na biodiversidade. Desde 2007, a área de eucalipto explorada pela Fibria na região cresceu de 135 mil para 240 mil hectares. "Em consequência, aumentou a mata nativa mantida como reserva legal, protegendo nascentes antes expostas ao gado", explica o secretário de finanças do município, Walmir Arantes.
Riscos sociais eram esperados. Em cinco anos, a população aumentou 25%. Hoje são 100 mil habitantes, atraídos pela nova fronteira. Só a construção da fábrica, inaugurada em 2009, absorveu 10 mil trabalhadores. Foram realizadas campanhas contra prostituição infantil, um problema na região, e também ações contra doenças, como a dengue. "Com mais alternativas, os jovens fixam-se na cidade e os que já foram embora para estudar e conseguir emprego estão retornando", revela Washington Westmann, coordenador de relações com a comunidade da Fibria.
"Sob o ponto de vista da sustentabilidade, a estratégia é compartilhar a riqueza com a realidade local, em fronteiras com baixo índice de desenvolvimento humano e econômico", afirma Marcelo Castelli, diretor florestal da Fibria. Segundo ele, os efeitos devem ser duradouros: "Não queremos apenas uma lua de mel, mas contar a história do lugar, sem assistencialismo".
Lugares esquecidos ganham status - e problemas - de cidade grande. Quando recebeu as primeiras mudas, em 1967, a cidade de Aracruz (ES) era um faroeste. Hoje, 80% da mão de obra do município está alocada nos plantios, na fábrica de celulose e serviços terceirizados. A operação representa quase 20% do PIB capixaba.
Mas, ao longo das décadas, a expansão urbana desordenada criou favelas e espalhou poluição. Além disso, o município, cercado por terras indígenas e remanescentes de Mata Atlântica, é zona de contínuos conflitos.
No campo, intercaladas à monocultura do eucalipto, áreas nativas compõem mosaicos verdes que funcionam como corredores de biodiversidade para o trânsito dos animais. Espécies da fauna voltaram à região. "Resolvido o manejo ambiental, agora trataremos com mais ênfase os aspectos sociais, com vistas ao selo socioambiental do Forest Stewardship Council (FSC)", revela Castelli, que pode ampliar os negócios no mercado internacional.
No Brasil, a área de eucalipto cresceu em média 7,1% ao ano, entre 2004 e 2009, segundo a Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas. A maior parte, cerca de 80%, é explorada para celulose, dentro de modelos de gestão de florestas sob a ótica da sustentabilidade. "No extremo Sul da Bahia, dez anos após os primeiros empreendimentos florestais, o IDH cresceu 21,1%, índice superior à média estadual", informa Elizabeth de Carvalhaes, presidente executiva da Associação Brasileira de Celulose e Papel.
A região foi economicamente devastada, a partir de 1974, com o surgimento da BR 101, que viabilizou o escoamento da madeira de lei da Mata Atlântica e, assim, contribuiu para o fim da lavoura cacaueira e da agricultura familiar. Hoje, no entorno do município de Mucuri (BA), tradicional colônia de pescadores, estão 215 mil hectares de florestas da Suzano Papel e Celulose, 40% destinados à conservação. Sua unidade industrial, que em 2007 recebeu R$ 2,6 bilhões para expansão, representa metade do faturamento da companhia.
Na região, a empresa gera 2,7 mil empregos diretos, sem contar pequenos produtores rurais que encontram no eucalipto fonte de riqueza. Eles têm assistência técnica e garantia de compra a preço diferenciado, sendo responsáveis por um terço da madeira que abastece a fábrica. "Muita coisa mudou", afirma o produtor José Ailton Thomaz, ostentando casa com piscina, carro de luxo e reserva financeira para comprar mais terras. Sua produção tem selo socioambiental, o que melhora a venda, e agora a preocupação é plantar mudas nativas para continuar com o benefício.
"Médicos, juízes, delegados e professores passavam ao largo da cidade", recorda-se Benício Firmo, secretário municipal de administração. Em uma década, o padrão mudou. A população de Mucuri cresceu de 4 mil para 34 mil habitantes. Rede de esgoto, hospital e escola foram construídos com recursos da empresa, que asfaltou estradas e mantém programas de educação e geração de renda.
Apesar da arrecadação turbinada, o poder público investiu pouco. A pobreza local impõe desafios. É comum o roubo de madeira nos plantios e até forninhos de carvão para crianças nas residências rurais. "A estratégia na área ambiental é o bom relacionamento", diz Márcio Caliari, da Suzano. Moradores contratados pela empresa atuam como agentes ambientais, percorrendo diariamente as comunidades em bicicletas para identificar impactos e demandas sociais. Uma questão é o sumiço dos peixes que sustentam 600 famílias de pescadores no litoral. Para diagnosticar o problema, a Suzano propôs a criação de um grupo de trabalho, incluindo lideranças locais e Ministério Público. A empresa diz que o padrão do efluente lançado nos rios está dentro da lei. "A água é prioridade", adverte Sérgio Costa, presidente da colônia de pescadores.
Na cidade de Telêmaco Borba (PR), a 280 km de Curitiba, o vaivém de carretas indica o vigor de um polo madeireiro, hoje com 68 empresas, que mudou o destino da região. Tudo começou na Fazenda Monte Alegre, na década de 1940, durante a efervescência econômica do pós-Guerra, quando a Klabin investiu em extensos plantios de árvores para produzir celulose e fazer papel para embalagens. Hoje a fábrica produz 1,1 milhão de toneladas, abastecida pela matéria prima de 130 mil hectares de eucalipto e pinus, intercalados com 110 mil hectares de floresta natural.
A atividade decolou há 12 anos, depois que os plantios para celulose receberam de forma pioneira no país o selo socioambiental do FSC, que exige critérios ambientais e sociais, mediante auditoria do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora). A medida impulsionou o desenvolvimento local, com novos usos da floresta, e fez surgir indústrias exportadoras que beneficiam madeira para móveis e construção civil. "Melhorias e investimentos em infraestrutura serão necessários para atender à demanda de uma nova fábrica que a Klabin planeja na região", afirma José Totti, diretor florestal.
O jornalista viajou para Mucuri e Três Lagoas a convite de Suzano e Fibria.

GADO CRIADO COM FLORESTA "SALVA" SOLO E GERA RENDA EXTRA

O sistema silvipastoril, que é o consórcio da criação de gado com florestas, é uma alternativa para o produtor que deseja aliar duas economias na mesma área. Através do sistema, a renda pode ser obtida com a comercialização de madeira e carne.
De acordo com engenheiro agrônomo Valdemir Antônio Laura, pesquisador da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) Gado de Corte, em Campo Grande, a implantação do consórcio garante maior produção de carne e ajuda na conservação do solo e da árvore, evitando erosões, principalmente as causadas pela chuva. Com isso, a pastagem deixa de ser degradada, se tornando fértil e protegida por folhas.
Já o presidente da Reflore/MS (Associação Sul-Mato-Grossense de Produtores e Consumidores de Florestas Plantadas), Junior Ramires, esclarece que no sistema silvipastoril, a madeira é comercializada como subproduto para quem a consorcia, juntamente com a pecuária. Um modelo interessante e que pode ser usado nesse sistema é a separação de áreas dentro da mesma propriedade. Segundo Junior, existem produtores que plantaram 4 mil hectares de pastagens com uma determinada quantidade de cabeças de gado. Foram separados mil hectares, arrendados para que uma empresa plantasse a floresta. Resultado: foi gerada renda extra. Com sombra no rebanho, o gado sente menos calor e automaticamente não consome muita energia.
Outro aspecto interessante nesse sistema é que há diminuição no consumo de água, que cai até 20%. Uma vaca costuma beber cerca de 50 litros de água por dia e pelo sistema, ela poderá beber dez litros a menos.
Dados de pesquisas feitas em outras regiões em que o consórcio é implantado apontam que a fertilidade do gado é alterada, resultando em taxas significativas de prenhes, aumento da libido do touro, interferência no cio das fêmeas e até mesmo no peso dos bezerros.
No entanto, antes da junção do gado com as árvores, é necessário que o agricultor plante a floresta, geralmente usando o eucalipto, que é a espécie florestal que cresce com mais rapidez. A partir de um ano, o gado já pode ser colocado na área. O eucalipto é uma árvore que recicla bastante o ambiente, sendo adubada só até o segundo ano de plantio.
Após esse processo, existe uma ciclagem dos próprios nutrientes dessa árvore, que acabam a nutrindo. A matéria orgânica gerada, teoricamente é melhor do que uma matéria orgânica de espécies gramíneas, por exemplo. As árvores de eucalipto são sustentáveis e se o produtor cortá-las em idade adulta (entre seis e sete anos), automaticamente conseguirá empreender a ciclagem dos nutrientes.
Esse processo é equilibrado e não retira matéria alguma do solo, apenas insere. Pela cobertura, o nutriente que a planta devolve é mais vantajoso à plantação de florestas do que de pastagens. Para que o sistema silvipastoril seja eficaz, é necessária a plantação de quantidade adequada de árvores, afinal, se for plantado um número muito grande, a produção pode cair e prejudicar o pasto e em casos de plantio de poucas árvores, haverá menos sombra.
O recomendado é que antes da chegada do gado, as árvores estejam medindo 8 centímetros de diâmetro. Caso contrário, os próprios animais destroem a árvore. A quantidade de gado na área depende do tamanho do pasto. No entanto, o sistema permite de 200 a 300 árvores por hectare, que é um número suficiente para preencher o sombreamento.
A colheita do eucalipto, por exemplo, acontece entre seis e sete anos. Mas se o mercado estiver em queda, a árvore pode continuar plantada no local a custo zero, só engrossando. Automaticamente o valor dela aumentará. Atualmente, para o plantio de um hectare de floresta pura de eucalipto, o pecuarista teria de investir de R$ 2,5 mil a R$ 3 mil por hectare, num espaço com 1,3 mil árvores plantadas. Se forem plantadas 400, o custo aproximado cai para R$ 1,2 mil.
Fonte: Abiec

PRODUTORES DE CACAU QUEREM VOLTAR A EXPORTAR


A Câmara Setorial do Cacau discute, em Brasília, a agenda estratégica para 2011. Um dos objetivos é fazer com que o país volte a ser exportador do produto.

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